sábado, 1 de novembro de 2014

Auto retrato


Elvira Amrhein



Se tenho asas e não posso voar! Se tenho olhos e não posso ver! É tudo por causa do que me nego, e cega assim, às vezes me entrego, me perco. Então caminho pra não ter de voar, confundo rostos, sentimentos. Amo o vento como fosse brisa do mar, aceno convicta pra quem não conheço, às vezes ninguém está lá.

Como uma louca com asas que se nega a voar. Somente uma louca com asas se negaria, assim, a voar! Porque não vê, pressente. E a dor, dói tanto que cala. A alegria, de ser tão alegre, dói.

De repente tudo foge ao controle, a roda se põe a girar, asas assumem vida própria, levantam voo à revelia. Maldigo o vento, o tempo, a sorte, o destino. Respiro o antigo, peso o corpo, não vejo, me perco, me nego.

Amo o engano, aceno pra quem não conheço, desfaleço. Não posso voar!

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