sábado, 21 de fevereiro de 2015

Um pedido. Um presente

Cezzane


Um pedido. Que as palavras, hoje, não signifiquem. Apenas sejam. Apenas toquem. Sem qualquer temor com os clichês, preocupação com a forma. Sem mensagens subliminares. Só mensagens. Sem engenharias mirabolantes, só palavras. Emprestadas do universo, organizadas no papel, ainda que em desordem. Palavras que se façam à partir do pensamento mais primário, mais isento das turbulências do mundo lá fora, mais genuíno. Daquele que talvez nem Buda tenha sido capaz.
Mas hoje, que se faça um milagre, e a vida só seja. Intensa. Inteira. Apenas exista. Descomplicada, mesmo sem a elegância que se desejaria, assim crua e desarrumada como ao levantar-se da cama pela manhã.
Livre. Ainda que para tal liberdade seja necessário sentir-se presa. A um sentimento, um pensamento, ao papel. Porque as palavras somente libertam-se quando presas ao papel, ensanguentadas de tinta, dependentes de seu interlocutor.
Então que seja ele, hoje, a somente ser. Inteiro. Intenso. E capaz do olhar antes do olhar. Apenas lá. Prevendo, predestinado, observando, agudo, preciso, presente.
Um presente. Mais um ano num amontoado de anos mal vividos em amontoadas palavras ainda não apreendidas. Tanto a se fazer, tão pouco tempo dada a infinidade já perdida até aqui.
Que hoje, à partir de hoje, as palavras pululem e apenas sejam, e possam assim ensanguentar de vida seu interlocutor, que possa assim olhar. Olhar-se. E ainda que não se conheça, deixar-se. Só de viver. Só de existir. Somente.