sábado, 24 de janeiro de 2015

Escolhas

Picasso



Tantas portas. Tantas, de perder de vista. Por todos os lados, portas.
É estranho saber dentre elas a minha. Simplesmente sei. A mais estreita. No fundo. Nem à esquerda, nem à direita. No fundo. A estreita.
E logo eu, que tenho andado tão fora do peso tão fora do prumo, que não passo ali. Não sem sofrimento. Esvaziar assim uma das mãos para caber no vão, poder passar.
Do outro lado, o elixir. É bebida doce, que de tão doce amarga, a boca ludibriada pelo sabor da paixão, por um mórbido prazer, exaustão.
E qualquer coisa que se diga, é da boca para fora. Qualquer coisa que se faça, é da porta para fora. Porque ela é estreita, assim como meu coração. Estreito, teimoso, meio quente meio morno que não aceita pulsar outro ritmo, outra nota. Minha porta. Estreita. Nem à esquerda, nem à direita. No fundo.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Uma breve oração




 
Marc Chagall


Procuro dentro de mim, seu lado vil. Nada encontro além de minha própria vilania. Quase pueril. Fria e pueril. Dessas crueldades que as crianças fazem sem a intenção de fazer. Sinto culpa.
E aí se eu soubesse uma oração... Seria de joelhos por ti. Seria para nos conceder o perdão. Seria enfim para compreender as palavras benditas e exaustivamente repetidas, porque foram feitas apenas para serem repetidas, incansavelmente repetidas como penitência, como punição.
Mas é que eu não sei nenhuma... É que eu ainda não pude me perdoar, me permitir, pedir perdão, ainda não.