quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Lucidez


Salvador Dali


Te busco onde inexisto. E tua sombra arredia funde-se ao imponderável do meu corpo. Por um segundo somos vulto, melodia que brisa, que passa. Desintegra-se.
Te desejo no impossível. E teu vazio funde-se ao meu. Por um segundo somos corpo, matéria, um novo planeta só nosso, que brilha estrela. Apaga-se.
Te compreendo na obviedade. E tua crueza funde-se a minha essência. Tua essência funde-se a minha crueza. Por um segundo somos nós mesmos, desnudados em carne viva, coração que espanca dentro do peito, colapsa.
Te perco na primeira escuridão. No tremeluzir inevitável das pálpebras. E tua imagem desfocada funde-se ao meu devaneio. Por um segundo somos apenas um. Imagem que deslumbra, solitude que sufoca, cega.
Te desisto. E tua insistência funde-se a minha impossibilidade, me invade o sossego. Escorrego palavras da mente. No vale do silêncio procuro abrigo. Por um segundo não posso... Simplesmente não posso mais.

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