terça-feira, 1 de outubro de 2013

Confissão




Salvador Dali

E por falar no silêncio. E por falar na coragem. Tudo me falta, tudo me sobra, tudo me mata. E vivo morta. Meio viva, meio sem vida própria, cambaleando nos pensamentos sufocados pelo excesso de ar e de palavras. Vastidão de caminho a que chamam vida. Deserto onde se desenham veredas, vielas, mazelas, amores, florestas, para finalmente acabar deserto. Cada passo. Cada olhar. É preciso coragem. E se o que de mim querem é coragem, pois fico com o silêncio. E se me dizem que os pés funcionam a serviço do tempo, pois faço o contrário. E o pensar me arrasta distante como um louco desvairado, ignorando qualquer sentido horário, enquanto que o pés planto em profundas e antigas raízes, agarradas sempre no mesmo lugar. Teimosia danada. 
E mais uma vez o silêncio. Uma fuga. Um encontro derradeiro com a alma. Mas se é dela que fujo, é com ela que me deparo a todo minuto. Esperança de que as coisas tenham modificado tantinho que seja, um quase nada diferente. É tudo por conta do tal sentido de viver. Um, para fazer renascer da morte plena para vida sublimada.