domingo, 1 de agosto de 2021

Sobre ser

 

Salvador Dali


É chegado o juízo final. De juiz passo a réu. Não sofro metamorfoses, é apenas o peso que recai sobre mim. Gravidades. Dos tempos do impensado. Quando eram erros alheios meus acertos. Quando amargores em outras bocas eram minhas vitórias. Quando guerra no peito do meu irmão era a minha paz. O mundo é injusto? Ou eu, que via minhas, as belas paisagens, ainda que estivesse cega. Via verdades, ainda que os olhos não fossem meus?

É tempo de aceitar e recolher deuses e demônios que vivem dentro de mim, em mim. Porque sou céu e sou inferno. Vivo no limiar. O véu que me divide entre real e ilusão, está logo ali, depois do juízo final, ultrapassada as reminiscências, além.

Se agora ganho olhos, se ganho asas, não é absolvição. Se escorro lágrimas e pesares, não é condenação.

É simplesmente a possibilidade de me sentir, de me seguir, para finalmente. Ser.


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