E quando o dia, cansado de ser sol, despertar
noite num quase sorriso da lua, é quando irei em seu encalço.
Ainda que tudo conspire contra e às
fadas do conto isto inspire afronta, eu assim abandonada à própria sorte, irei
em seu encalço.
Sei que é lá no alto da colina, na
torre solitária do castelo que já ruiu, que nunca existiu, é onde você está.
Murada que te mantém. Você vilão, você refém, que descansa embalado pela
cantiga. Quem dera fosse um ninar... E dormindo pudéssemos acordar... Mas amaldiçoados
que fomos!
Calado, joelhos ao chão, pesadas são as
cordas que escalpelam a alma, já sem pele, é carne viva que te expõe os
segredos mais indizíveis. Não pode amar. É por causa da dor. Não pode ser
amado.
E eu, sem muito compreender meus
passos, propósitos indemarcados no pensamento, assim como as pegadas que
diluem-se no caminho lamacento, mal me sustento... Sentimento que não quer
sentir e sente, passo que não quer seguir e segue.
Chamo seu nome e tudo passa a ser por
causa do seu nome. Apenas vou em seu encalço sem importar que seja noite e a
lua não mais queira me guiar, as fadas se recusem a este conto e só façam me
amaldiçoar, ainda assim, ainda exausta, eu persistirei.
Escalarei as paredes escorregadias e
petrificadas que te cercam o peito, chegarei ao seu rosto amortecido, ausente,
e contemplarei seus lábios com tanta doçura, amor sublime que buscarei além
deste mundo e devotarei todo ele num beijo.
E quem sabe seu beijo me desperte deste
sono de cem anos me liberte, me salve de mim mesma.
E possa eu finalmente acreditar em
contos de fadas, em príncipes, no amor eterno.
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