domingo, 5 de agosto de 2012

O nada

Claude Monet



À beira do penhasco, a menina admira o nada. A cabeça abandonada sobre os joelhos, levemente inclinada para cima. Pensamento ausente. E na possibilidade da queda, suas mãos estão úmidas. O peito abalado é inquietude da alma que não pode parar. A menina está farta, mas sabe que não pode parar. Voa alto. Além dos limites do horizonte. Distâncias inimagináveis. Angústia, velha conhecida, agora a acompanha. E inesperado o peso torna-se insuportável. Fardo. Mais uma vez na iminência da queda. Deixar-se cair, seria cair para sempre. Não haverá chão que a ampare em pedaços. Talvez por isso a menina reste ali, admirando o nada com o sol de fundo entre as montanhas, a lua mal apagada, a brisa quase cantiga. A mesma busca. O mesmo desejo. E quando o tempo se esgota, a menina apenas finge que está tudo bem. Ela diz para si, tudo bem.

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