Sonho. O mar é bravio. Silêncio. O meu silêncio. Sou expectadora das ondas que batem nas pedras. Debatem-se. Sinto a dor do mar. Sinto amor. Amo além do amor. Insisto nas pedras porque agora sou mar, sou revolução, quero vencer a arrebentação que me desassossega, que me retém. E me entregar a este amor, tão enlouquecida tão imperfeita... livre. E jogada contra minhas pedras para atingir alto mar. Flutuo no ar. Não toco a água. Sinto-a. Vivo-a. E neste não saber, quero. Neste não poder, amo alguém que não está lá. Uma ausência. Respiro o sonhar, caminho o amor, mergulho para nos alcançar. Sonho.
"...Restávamos três anárquicos. De carne, ossos, olhos fixos no mesmo ideal. Foram-se dois. E de fugir da matemática me escondi entre palavras. Descobri então que números também são palavras. De volta à matemática, três menos dois. Números-palavras que de cruéis me fizeram restar um, no lapso."
domingo, 3 de abril de 2016
Sonho
Sonho. O mar é bravio. Silêncio. O meu silêncio. Sou expectadora das ondas que batem nas pedras. Debatem-se. Sinto a dor do mar. Sinto amor. Amo além do amor. Insisto nas pedras porque agora sou mar, sou revolução, quero vencer a arrebentação que me desassossega, que me retém. E me entregar a este amor, tão enlouquecida tão imperfeita... livre. E jogada contra minhas pedras para atingir alto mar. Flutuo no ar. Não toco a água. Sinto-a. Vivo-a. E neste não saber, quero. Neste não poder, amo alguém que não está lá. Uma ausência. Respiro o sonhar, caminho o amor, mergulho para nos alcançar. Sonho.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
Mensagem na garrafa
The Tempest(Shakespeare) |
Aos cuidados de um desavisado.…
"Por favor, não venha depois que meus sonhos amanhecerem, seus olhos anoitecerem e assim no escuro eu não veja mais o seu rosto. Não apareça depois que a vida tiver mudado de cor. Não espere que a bonança vença a tempestade sem alguma luta, porque mágica não existe, as fadas que poderiam dar conta de tal proeza já estão fadadas ao faz de conta.
Os príncipes estão fora de moda, sim eu sei, somente nos sonhos podem perpetuar, nos meus. Mas quando eles amanhecerem, será tarde demais."
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
O Indizível
Picasso |
Hoje acordei assim. Visão nublada.
Olhos de um estranho. Mente calada
E o coração querendo
como criança mimada
que quer porque quer
E eu não posso fazer nada.
Hoje acordei assim. Sendo.
Uma personagem de um conto que não é meu.
Uma mulher que não cresceu.
Perdida. Vagando menina.
Na terra encantada.
E eu não posso fazer nada.
Hoje acordei assim. Saudosa do que não tenho.
Da praia nunca visitada
Do mar que não mergulhei
Olhos azuis cristal que me envolveram na madrugada
E dissolveram na areia dos castelos que construí.
Não sobrou nada.
Hoje acordei assim. Decidida.
E dizer o que palavras não podem definir
Então inventá-las para significar
O que eu sinto e não posso sentir
Ou porque a palavra seja tão errada
Ou porque eu não sinta mais nada
Hoje acordei assim. Talvez nem esteja acordada
Querendo uma nota para minha canção de "amar".
Mas se eu nem mesmo sei cantar?!
Mas se é tudo ilusão?!
E é proibido o verbo em questão
Eu não posso fazer mais nada.
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
Teoria sobre o amor desacontecido
Romeu e Julieta (Theodore) |
E
se o amor desacontecer será como a morte do que nunca nasceu. Capítulos em
branco de uma história começada pelo fim. E o que se haverá de dizer já que nem
as linhas tortas do destino foram escritas pelo Deus correto?
E
se o amor desacontecer será por causa de Deus. Que distraído das coisas mais
importantes perdeu-se nas entrelinhas. Se dará, então, conta de nunca ter sido
Deus. Onipotência, onisciência, onipresença. Estupidez. E desapegar-se do tempo
torna-se lapso. A vida, hiato. A morte, incerta. Porque não se pode controlar o
amor. Se sublime ou não, se escrito nas estrelas, no papel, nos lençóis, no
coração for a questão, quem há de dizer? Shakespeare?
E
se o amor desacontecer será por causa da loucura. Futuro que persegue o passado
em busca dos sentimentos que preencham as tais páginas em branco. A história
que chega ao clímax, momento mais aguardado, guardado no próximo parágrafo, no
verso da folha, quando o mocinho/bandido diz (eu te amo) à sua eleita enquanto
a ama em desespero. Mas isso são apenas elucubrações do futuro que descuidou-se
do presente, assim ausente, assim insano, porque simplesmente não existe.
E
se o amor desacontecer será por causa do presente. Que sem passado é apenas
expectador desse fogo que arde sem se ver, incendeia, vira pó. Vive-se então
das sensações do não dito. E o que antes era dom, torna-se maldição. O desejo de revelar o não
dito, maldito desejo de viver entregadamente o que não foi escrito. E tudo
recomeça como um círculo vicioso. Uma dor, um vício, uma doença, seja herança
de vidas passadas, algo do qual não pode livrar-se assim sem punição e que se
alimenta das cinzas, das expectativas, do próximo capítulo em branco. Medo.
E
se o amor desacontecer será por causa do medo. Porque o amor torna-se palavra,
o coração, um pensador. Calado. Enclausurado pelo medo. Subterrâneo empoeirado
refúgio da alma. Alma tola e gentil que não pretende partir, mas que prefere o
encobrimento das sombras. Alma tola e gentil que já não pode se esconder tão
conhecida e antiga que é. Alma tola e
gentil que nada sabe da liberdade.
E
se o amor desacontecer, será mentira. E se o amor desacontecer será tragédia,
porque o tempo não há de esperar. E se o amor desacontecer depois de tudo, será
apenas assim, imperdoável para toda a eternidade.
sexta-feira, 17 de abril de 2015
Criador e criatura: A breve história de um olhar. De olhos bem fechados
Degas |
Toda história precisa de um começo, meio e
fim. Era assim que ele entendia sua criação. E seja este, o meio de algo que
teve seu início lá trás, no lapso de uma inspiração despretensiosa, assim,
quase que por descuido. Dessas coisas que acontecem sem explicação alguma.
Garoa fria, brisa fina. Na vista distante,
as águas ouvidas em ritmados instantes a debruçarem-se nas areias da praia solitária.
Era este o tom em consonância com a melodia triste: três cordas e um piano na
sala vazia que transbordava melancolia por todos os poros e o acolhia,
recostado à poltrona, no centro de si, no âmago do mundo, logo ali. Dentro.
Um clássico. Um compositor contemporâneo.
Notas que se transmutavam e o transportavam e se misturavam canonicamente à
explosão das ondas lá fora. Ele, permanecia de olhos fechados e em sua
escuridão particular era possível compreender-se, entregar-se ao tal sentimento
que antes não fora capaz de definir.
Movimentos que nasciam desta descoberta.
Espaços preenchidos em tempos de oito. Corpos significando gestos alongados na
busca da iluminação, em seguida contorcidos e arredondados como quem tentasse
resguardar a alma de ferimento mortal.
A história de uma dor, talvez a saga de um
amor, impossível, porque somente os amores impossíveis são eternos... E no
palco a música ganha corpo, corpos ganham musicalidade, rastros de poesia,
romântica intensidade.
Nos pensamentos dele, a dança ganha
história, a história ganha vida: três bailarinos, três bailarinas, passos, porté, renversé, brisé... ele tem o
ímpeto de juntar-se ao espetáculo, mas continua a residir em sua mente,
resignado à sua última arte, sua inspiração criativa. E os movimentos seguem,
intercalando-se entre homens e mulheres, chegam ao ápice, envolvidos e conscientes
da paixão que se desnuda através dos olhares e das mãos, que se desenham e
acariciam e traduzem palavras e juras silenciosas.
E como toda historia que chega ao seu final.
E como todo amor que mata. A música soa seus acordes derradeiros, os bailarinos
alçam o último voo, o último entrelaçar de corpos, o fim. Um amor, que por amor
morre enfim, assim eterno como deve ser.
Uma única lágrima para expressar toda a
carga dessa emoção. Os desejados aplausos. O vazio, então. E ele, ainda no
impulso do último ato, impregnado pelos resquícios do que nasceu, contudo,
terminado morreu, para viver, agora de olhos abertos admira a paisagem quase
noturna, quase Chopin. Da varanda deixa-se invadir pela brisa fina, a garoa
mais intensa ainda fria, as ondas cadenciadas e monótonas que incansáveis
explodem nas areias da praia solitária. Agora é real. Criador e criatura.
terça-feira, 10 de março de 2015
Ensaio sobre o risco
Torre de Babel |
E arriscar-se
seja como o risco que se faz no papel em branco no escuro, nem tão cego assim.
E o risco que se corre por não saber se o risco do lápis que atravessa o papel,
está onde deveria estar, seja uma questão de referência, uma questão de se
atender às demandas pré definidas: do que se deve ser, do que se quer poder, do
que é certo ter, do que é errado querer... Do que esperam de ti.
A vantagem das
crianças é a despretensão com a vida, o descompromisso com o erro (embora
algumas já afetadas pelos temores maternos e paternos ainda no berço não sejam
assim, infelizmente). É a capacidade do tal “um dia de cada vez”. E arriscar-se,
para elas, passa ser a simples falta da compreensão dos significados porque
vivem dos significantes, do que dá o sentido.
E seja o excesso
dessas compreensões que se adquire ao longo do tempo, faça com que as coisas
se compliquem. Se por um lado, adultos pensantes necessariamente precisam
do entendimento para que possam evoluir em tantos aspectos, por outro,
aprisiona.
E arriscar-se
seja a medida exata do quanto se caminha com os pés no chão ou nas nuvens. O
quanto se vive de realidade, ou de ilusão. E aí corre-se o risco dos enovelados
filosóficos: afinal de contas o que é a realidade? Se partir do princípio que
todos são iguais enquanto espécie humana, são tão diversos na essência. O que é
imprescindível pra ti talvez não seja pra mim, e a felicidade pra ti talvez não
venha na mesma embalagem que pra mim...E por aí se vai, abrindo milhares de
parênteses, colocando uma série de virgulas, dando volta nas palavras para se
chegar a conclusão de que tudo depende.
Histórias de
vidas alheias, são boas histórias alheias, possam elas até despertar alguma
coragem, mas apenas isto? Porque afinal de contas historias podem se repetir!
Mas aí pensar que seres humanos são perfeitos repetidores de modelos
familiares, próprios e de outros desconhecidos; os mesmos temores, desejos, a
mesma busca: o sucesso, o olhar, reconhecimento, amparo. Seres que são espelhos, uns para os outros,
refletindo imagens nem sempre reais, nem sempre fiéis, e aí corre-se o risco da
sensação de estagnação, dos sentimentos pouco construtivos, de não sentir vida
correndo nas veias.
E arriscar-se
seja exatamente a quebra dos modelos pré concebidos, a conquista da liberdade,
aquela, a verdadeira, a que desamarra sem exigir nada em troca.
E arriscar-se
seja o não se importar com o resultado, e sim com as escolhas, a
autossuficiência delas, e depois adquirir condição de se conviver com as consequências.
A simples lei da ação e reação, talvez colocada de forma menos opressora.
E arriscar-se
seja descobrir um mundo de possibilidades e não apenas um salto no tal escuro
do papel, talvez um voo livre ao encontro do destino. Porque ele sempre estará
lá. Não há escapatória! E seja esta a melhor e mais legítima defesa para os que
se arriscam, o que justifica, saber que ele, o destino, dará um jeito em tudo,
eximindo o consciente arriscador de qualquer arrependimento.
E arriscar-se
seja livrar-se das culpas, dos medos, porque o medo de arriscar possa ser apenas o medo de se perder o medo: medo de viver, de ser
feliz. Afinal ele, o medo, estranhamente conforta, oferece chão supostamente
seguro para se pisar, retém, restringe, assegura.
E arriscar-se
seja dar-se conta da dureza deste chão, ter a certeza de que depois da queda nesta concretude, não se pode ir além. Impossível
cair da queda, ultrapassar o chão. A partir daí, o risco deixa de ser risco para
tornar-se linha, torna-se passo. E todo o resto seja uma questão de ponto de
vista.
sábado, 21 de fevereiro de 2015
Um pedido. Um presente
Cezzane |
Um pedido. Que as palavras, hoje, não
signifiquem. Apenas sejam. Apenas toquem. Sem qualquer temor com os clichês,
preocupação com a forma. Sem mensagens subliminares. Só mensagens. Sem
engenharias mirabolantes, só palavras. Emprestadas do universo, organizadas no
papel, ainda que em desordem. Palavras que se façam à partir do pensamento mais
primário, mais isento das turbulências do mundo lá fora, mais genuíno. Daquele
que talvez nem Buda tenha sido capaz.
Mas hoje, que se faça um milagre, e a vida
só seja. Intensa. Inteira. Apenas exista. Descomplicada, mesmo sem a elegância
que se desejaria, assim crua e desarrumada como ao levantar-se da cama pela
manhã.
Livre. Ainda que para tal liberdade seja
necessário sentir-se presa. A um sentimento, um pensamento, ao papel. Porque as
palavras somente libertam-se quando presas ao papel, ensanguentadas de tinta,
dependentes de seu interlocutor.
Então que seja ele, hoje, a somente ser.
Inteiro. Intenso. E capaz do olhar antes do olhar. Apenas lá. Prevendo,
predestinado, observando, agudo, preciso, presente.
Um presente. Mais um ano num amontoado de
anos mal vividos em amontoadas palavras ainda não apreendidas. Tanto a se
fazer, tão pouco tempo dada a infinidade já perdida até aqui.
Que hoje, à partir de hoje, as palavras pululem
e apenas sejam, e possam assim ensanguentar de vida seu interlocutor, que possa
assim olhar. Olhar-se. E ainda que não se conheça, deixar-se. Só de viver. Só
de existir. Somente.
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