Se não me sobra tempo, se me falta inspiração, seja porque ultimamente tenho me ocupado demais da vida alheia. De uns que sei nome, de outros que sei rosto. Tudo muito aleatório. Outros que nem conheço.
E tratar do que não é meu, tem me jogado de cara no chão de uma realidade endurecida e pessimista. É, o mundo anda pessimista. De uma maneira geral e também individual. As pessoas têm brigado demais. De uma discussão que não se quer ter fim. Quando parece que vai amainar, lá vem madeira para robustecer o fogo que já está fora de controle.
Eu fico só de observar a fumaça que resulta desse diz que me diz, dessa medição de forças, inútil: vapores escurecidos que minam pelos poros, ouvidos, boca, olhos. As palavras mal tocam o ar e esfumaçam como fossem jogadas em ácido. A coisa vai num crescente até que tudo fica tomado dessa névoa espessa. Cinza chumbo. E quando todo mundo acha que foi o tempo que nublou. Não foi não. É só a massa densa formada pelo ódio excretado. E aí a gente descobre que o ódio tem cor, se toca. O ódio sufoca. Às vezes penso que essa falta de ar horrorosa possa ser o ódio que consome todo o oxigênio do ar e polui mais que monóxido de carbono. Será?
A verdade é, que vindo minha inspiração de lá, do céu, ou cá de dentro, preciso estar a salvo dessa poluição tóxica. Seria isso um egoísmo meu? Não bestializar-me? Simplesmente tapar boca, nariz e ouvidos? Normalmente a dor do outro também me dói, mas não sou santa, e algumas cegueiras me provocam, algumas insistências em temas recorrentes também me amofinam. E quando entro nessa ferocidade me dou conta de que estou ocupada demais da vida alheia. Se o outro me indispõe, é claro que, o que não era meu, peguei para mim. Não há interlocutor que possa ser responsável por minhas feras interiores. Faço escolhas.
Hoje o céu está azul claro, estou achando que o amor, ao menos hoje, deu a volta por cima!