quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Realidade Cinza chumbo

 



Se não me sobra tempo, se me falta inspiração, seja porque ultimamente tenho me ocupado demais da vida alheia. De uns que sei nome, de outros que sei rosto. Tudo muito aleatório. Outros que nem conheço. 


E tratar do que não é meu, tem me jogado de cara no chão de uma realidade endurecida e pessimista. É, o mundo anda pessimista. De uma maneira geral e também individual. As pessoas têm brigado demais. De uma discussão que não se quer ter fim. Quando parece que vai amainar, lá vem madeira para robustecer o fogo que já está fora de controle. 


Eu fico só de observar a fumaça que resulta desse diz que me diz, dessa medição de forças, inútil: vapores escurecidos que minam pelos poros, ouvidos, boca, olhos. As palavras mal tocam o ar e esfumaçam como fossem jogadas em ácido. A coisa vai num crescente até que tudo fica tomado dessa névoa espessa. Cinza chumbo. E quando todo mundo acha que foi o tempo que nublou. Não foi não. É só a massa densa formada pelo ódio excretado. E aí a gente descobre que o ódio tem cor, se toca. O ódio sufoca. Às vezes penso que essa falta de ar horrorosa possa ser o ódio que consome todo o oxigênio do ar e polui mais que monóxido de carbono. Será?


A verdade é, que vindo minha inspiração de lá, do céu, ou cá de dentro, preciso estar a salvo dessa poluição tóxica. Seria isso um egoísmo meu? Não bestializar-me? Simplesmente tapar boca, nariz e ouvidos? Normalmente a dor do outro também me dói, mas não sou santa, e algumas cegueiras me provocam, algumas insistências em temas recorrentes também me amofinam. E quando entro nessa ferocidade me dou conta de que estou ocupada demais da vida alheia. Se o outro me indispõe, é claro que, o que não era meu, peguei para mim. Não há interlocutor que possa ser responsável por minhas feras interiores. Faço escolhas.


Hoje o céu está azul claro, estou achando que o amor, ao menos hoje, deu a volta por cima!


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Meditações

 

                                        Russell Discombe -  'deep sky' objects some up to 50 million light-years away.



Mergulho no universo. Oceano eterno de estrelas. Deixo-me alar… Agora faço parte de tudo o que é. Simplesmente sou. 

Vivo dos silêncios que me preenchem, assisto o mundo, penso filosofias, jornadeio esperanças.

Estou livre do espaço e do tempo. Sou eletricidade e magnetismo, muito além da velocidade da luz. Sou colapso. Sou dia e sou noite. Sou sempre. A totalidade está aqui, me acaricia, me abraça. 

É quando me visto de infinito para falar com Deus. Mas Deus não existe. Deus é. Deus está. Deus sou. Deus uno. Apenas Deus.

E tomada por esse novo esplendor que estou, crio, sorrio. Dedilho notas de poesias, danço músicas em verso. De repente sou valsa. Transmuto escuridões, instantânea e incandescente, sou luz.

domingo, 1 de agosto de 2021

Sobre ser

 

Salvador Dali


É chegado o juízo final. De juiz passo a réu. Não sofro metamorfoses, é apenas o peso que recai sobre mim. Gravidades. Dos tempos do impensado. Quando eram erros alheios meus acertos. Quando amargores em outras bocas eram minhas vitórias. Quando guerra no peito do meu irmão era a minha paz. O mundo é injusto? Ou eu, que via minhas, as belas paisagens, ainda que estivesse cega. Via verdades, ainda que os olhos não fossem meus?

É tempo de aceitar e recolher deuses e demônios que vivem dentro de mim, em mim. Porque sou céu e sou inferno. Vivo no limiar. O véu que me divide entre real e ilusão, está logo ali, depois do juízo final, ultrapassada as reminiscências, além.

Se agora ganho olhos, se ganho asas, não é absolvição. Se escorro lágrimas e pesares, não é condenação.

É simplesmente a possibilidade de me sentir, de me seguir, para finalmente. Ser.