Entre “A caverna” de Platão e “Tocata e fuga” de Bach, sigo o fio do novelo, no encalço da minha essência, da arte, meu lugar no mundo, eu, unidade... Ainda que seja muito transparente para ser poema, muito hermética para ser romance, muito sonhadora para ser cinema. Enfim uma “outsider”, vinda de ilha longínqua, carregada de conceitos e respostas, ou seriam amarras? Como já dizia Nietzsche, convicções são cárceres.
Mas se ao despojar-me delas, o vazio? E assim solta no ar me invada tal possibilidade: Teria eu nascido póstuma, fadada ao gelo do tempo, pudores paralisantes, cheios de rigor e tão conflitantes com o fogo que me faz criar?
... Sou o que faço? Existente a partir da existência? Dona única e responsável por meus atos, num mundo de bilhões de donos únicos de seus atos? Afinal sou Sartre ou sou Platão? Preciso mesmo do caos? Dessa desordem que me oprime o peito, mas que me flui em palavras e inspirações?
Albinoni me entenderia... Wagner também, e não preciso dizer de Jung. Mas se agora é solitário andar por entre a gente porque somos parte de um todo, e tudo são espelhos, e queremos ser diferentes, muda-se então os cenários, contudo, repete-se os enredos, e ainda que se cruzem olhares com novos olhares, descobre-se os olhares de sempre?
Quanto profundo se tem que mergulhar na própria essência, para se alcançar a verdade do ser? Talvez faça parte da cura deixar doer. E mais uma vez morrer, e se necessário for, repetir os mesmos versos, os mesmos passos, as mesmas rimas, se for esse o preço do movimento que faz fluir e florescer.
Talvez tornar-me um cavaleiro errante, e lutar com moinhos ao som da nona de Beethoven, ou de uma minimalista contemporânea adorável, talvez aí eu a encontre, entre vitórias emocionadas e derrotas edificantes, ela, a verdade do meu ser.