sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Teoria sobre o amor desacontecido

Romeu e Julieta (Theodore)


E se o amor desacontecer será como a morte do que nunca nasceu. Capítulos em branco de uma história começada pelo fim. E o que se haverá de dizer já que nem as linhas tortas do destino foram escritas pelo Deus correto?
E se o amor desacontecer será por causa de Deus. Que distraído das coisas mais importantes perdeu-se nas entrelinhas. Se dará, então, conta de nunca ter sido Deus. Onipotência, onisciência, onipresença. Estupidez. E desapegar-se do tempo torna-se lapso. A vida, hiato. A morte, incerta. Porque não se pode controlar o amor. Se sublime ou não, se escrito nas estrelas, no papel, nos lençóis, no coração for a questão, quem há de dizer? Shakespeare?
E se o amor desacontecer será por causa da loucura. Futuro que persegue o passado em busca dos sentimentos que preencham as tais páginas em branco. A história que chega ao clímax, momento mais aguardado, guardado no próximo parágrafo, no verso da folha, quando o mocinho/bandido diz (eu te amo) à sua eleita enquanto a ama em desespero. Mas isso são apenas elucubrações do futuro que descuidou-se do presente, assim ausente, assim insano, porque simplesmente não existe.
E se o amor desacontecer será por causa do presente. Que sem passado é apenas expectador desse fogo que arde sem se ver, incendeia, vira pó. Vive-se então das sensações do não dito. E o que antes era dom,  torna-se maldição. O desejo de revelar o não dito, maldito desejo de viver entregadamente o que não foi escrito. E tudo recomeça como um círculo vicioso. Uma dor, um vício, uma doença, seja herança de vidas passadas, algo do qual não pode livrar-se assim sem punição e que se alimenta das cinzas, das expectativas, do próximo capítulo em branco. Medo.
E se o amor desacontecer será por causa do medo. Porque o amor torna-se palavra, o coração, um pensador. Calado. Enclausurado pelo medo. Subterrâneo empoeirado refúgio da alma. Alma tola e gentil que não pretende partir, mas que prefere o encobrimento das sombras. Alma tola e gentil que já não pode se esconder tão conhecida e antiga que é.  Alma tola e gentil que nada sabe da liberdade.
E se o amor desacontecer, será mentira. E se o amor desacontecer será tragédia, porque o tempo não há de esperar. E se o amor desacontecer depois de tudo, será apenas assim, imperdoável para toda a eternidade.